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domingo, 7 de fevereiro de 2016

A História de um Senhor e um Menino...


   
     Era uma vez um senhor que morava em um lindo e humilde sertão, um senhor com uma linda lição de vida para ensinar, um senhor com o rosto cicatrizado, cheio de marcas. Marcas de uma vida dura e cruel.
     Foi em uma noitinha de domingo, quando andava por uma floresta sinistra, fria e escura que encontrou um menino, sentado, cabisbaixo na raiz de uma arvore. O senhor não pensou duas vezes, deu cinco passos adiante e se aproximou lentamente do menino, e logo perguntou ao mesmo:
__ Ei garoto, o que faz ai? Esta floresta é perigosa para garotinhos como você.
O menino levantou sua cabeça bem lentamente, com um olhar arrepiante para aquele senhor e indagou:
__ O ser humano é o ser mais perigoso que ainda não foi extinto, por que eu teria medo de outra coisa?
O senhor ficou encantado com aquele garoto, mas ao mesmo tempo preocupado, então resolve perguntar:
__ O que houve com você?
O garoto começa a chorar e responde:
__ A menina que eu gostava, aquela que eu amava foi embora, seus pais não gostavam de ver a gente juntos, acho que não vou vê-la de novo nunca mais.
O senhor com lágrimas ao rosto abraça o menino e sussurra baixo no seu ouvido:
__ Vou te contar um pouco da minha história. Olha garoto, quem olha para mim vê um velho sem conteúdo, esquecido de tudo e de todos, mas nem sempre foi assim... 'Lembro como se fosse ontem, nós dois estávamos estudando no meu quarto naquela tardinha de sábado, naquela época já éramos grandinhos. Foi naquele dia que demos nosso primeiro beijo de amor verdadeiro, foi naquele mesmo dia que fizemos o pacto do amor; prometemos um para o outro nunca nos deixarmos, então a noite chega e eu fui para minha casa todo contente da vida, dormi sonhando com ela. Na manhã seguinte fui visita-la, quando cheguei a sua casa fiquei sabendo que ela não estava mais lá, foi embora, ouvi boatos de que seu pai tinha ganhado uma promoção no trabalho em outro estado, passou tantas coisas por minha cabeça naquele dia, chorei afogadamente no travesseiro por uma semana sem parar, depois fui me acostumando. Anos depois recebi uma notícia de um antigo colega de escola; ela se casou, se casou com meu irmão William.
O senhor com muitas lágrimas ao rosto termina de contar sua história de amor chorando baixinho para o menino:
__ Sabe garoto, na maioria das vezes, as decepções parte das pessoas que mais amamos, depois de tudo isso que passei, comprei este pedacinho de terra ao redor da natureza com meu pouco dinheiro do trabalho como professor, vim para cá já depois de velho, para admirar e observar meu segundo amor: as estrelas, junto com tudo que encanta o céu do sertão, a lua, as nuvens e Deus, e finalmente morrer feliz.
O garoto, com seus olhos grandes e cintilantes cheio de lágrimas, levanta e lhe dá um abraço forte e verdadeiro naquele senhor, e agradece dizendo:
__ Confesso para você que estava com a enorme vontade de subir em um arvore bem alta e me jogar de cima dela, mas minha vida é muito mais valiosa do que uma garota. Obrigada meu bom amigo, pela sua linda lição de vida.
O garoto se despede do bom velhinho e vai embora. Anos depois, já no leito de sua morte, o velhinho recebe uma visita, era seu amiguinho, com sua esposa e seu filhinho de três meses de nascimento, o garoto que agora é rapaz chega para seu velho amigo e diz já com a voz mais grossa:
__ Hoje sou feliz graças a você meu bom homem, sua lição de vida irei passar para meus filhos, netos e bisnetos.
O velhinho já em suas últimas palavras murmura com a voz roca e diz:
__ Agora quem sabe, irei encontrar meu segundo amor; Deus e as estrelas.
Assim acaba o ciclo para aquele senhor, que morreu ainda com seu amor no coração, mesmo não estando com sua amada, pois o verdadeiro amor dura mesmo depois de grandes decepções e depois de grandes traições.

Moral: Não se pode precipitar-se por alguém, sacrificar-se por alguém, nem mesmo que esse alguém seja um grande amor, pois ninguém é perfeito para pagar por uma vida imperfeita, (o velho homem amou incondicionalmente, foi traído e esquecido, mas nem por isso deixou de viver). A vida é, deveras, o mais lindo dos poemas.

[Cicero Rodrigues]

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