Era uma vez um senhor que morava em um lindo e humilde sertão, um
senhor com uma linda lição de vida para ensinar, um senhor com o rosto
cicatrizado, cheio de marcas. Marcas de uma vida dura e cruel.
Foi em uma noitinha de domingo, quando andava
por uma floresta sinistra, fria e escura que encontrou um menino, sentado,
cabisbaixo na raiz de uma arvore. O senhor não pensou duas vezes, deu cinco
passos adiante e se aproximou lentamente do menino, e logo perguntou ao mesmo:
__ Ei garoto, o que faz ai? Esta
floresta é perigosa para garotinhos como você.
O menino levantou sua
cabeça bem lentamente, com um olhar arrepiante para aquele senhor e indagou:
__ O ser humano é o ser
mais perigoso que ainda não foi extinto, por que eu teria medo de outra coisa?
O senhor ficou encantado
com aquele garoto, mas ao mesmo tempo preocupado, então resolve perguntar:
__ O que houve com você?
O garoto começa a chorar
e responde:
__ A menina que eu
gostava, aquela que eu amava foi embora, seus pais não gostavam de ver a gente
juntos, acho que não vou vê-la de novo nunca mais.
O senhor com lágrimas ao
rosto abraça o menino e sussurra baixo no seu ouvido:
__ Vou te contar um pouco
da minha história. Olha garoto, quem olha para mim vê um velho sem conteúdo,
esquecido de tudo e de todos, mas nem sempre foi assim... 'Lembro como se fosse
ontem, nós dois estávamos estudando no meu quarto naquela tardinha de sábado,
naquela época já éramos grandinhos. Foi naquele dia que demos nosso primeiro
beijo de amor verdadeiro, foi naquele mesmo dia que fizemos o pacto do amor;
prometemos um para o outro nunca nos deixarmos, então a noite chega e eu fui
para minha casa todo contente da vida, dormi sonhando com ela. Na manhã
seguinte fui visita-la, quando cheguei a sua casa fiquei sabendo que ela não
estava mais lá, foi embora, ouvi boatos de que seu pai tinha ganhado uma
promoção no trabalho em outro estado, passou tantas coisas por minha cabeça
naquele dia, chorei afogadamente no travesseiro por uma semana sem parar,
depois fui me acostumando. Anos depois recebi uma notícia de um antigo colega de
escola; ela se casou, se casou com meu irmão William.
O senhor com muitas
lágrimas ao rosto termina de contar sua história de amor chorando baixinho para
o menino:
__ Sabe garoto, na
maioria das vezes, as decepções parte das pessoas que mais amamos, depois de
tudo isso que passei, comprei este pedacinho de terra ao redor da natureza com
meu pouco dinheiro do trabalho como professor, vim para cá já depois de velho,
para admirar e observar meu segundo amor: as estrelas, junto com tudo que
encanta o céu do sertão, a lua, as nuvens e Deus, e finalmente morrer feliz.
O garoto, com seus olhos
grandes e cintilantes cheio de lágrimas, levanta e lhe dá um abraço forte e
verdadeiro naquele senhor, e agradece dizendo:
__ Confesso para você que
estava com a enorme vontade de subir em um arvore bem alta e me jogar de cima
dela, mas minha vida é muito mais valiosa do que uma garota. Obrigada meu bom
amigo, pela sua linda lição de vida.
O garoto se despede do
bom velhinho e vai embora. Anos depois, já no leito de sua morte, o velhinho
recebe uma visita, era seu amiguinho, com sua esposa e seu filhinho de três
meses de nascimento, o garoto que agora é rapaz chega para seu velho amigo e
diz já com a voz mais grossa:
__ Hoje sou feliz graças
a você meu bom homem, sua lição de vida irei passar para meus filhos, netos e
bisnetos.
O velhinho já em suas
últimas palavras murmura com a voz roca e diz:
__ Agora quem sabe, irei
encontrar meu segundo amor; Deus e as estrelas.
Assim acaba o ciclo para
aquele senhor, que morreu ainda com seu amor no coração, mesmo não estando com
sua amada, pois o verdadeiro amor dura mesmo depois de grandes decepções e
depois de grandes traições.
Moral: Não
se pode precipitar-se por alguém, sacrificar-se por alguém, nem mesmo que esse
alguém seja um grande amor, pois ninguém é perfeito para pagar por uma vida imperfeita,
(o velho homem amou incondicionalmente, foi traído e esquecido, mas nem por
isso deixou de viver). A vida é, deveras, o mais lindo dos poemas.
[Cicero Rodrigues]
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